O que pretendo tratar neste artigo é como as empresas ‘de ponta’ enxergam e incentivam a valorização da formação técnica que, em tese, é mais rápida e direcionada ao mercado de trabalho, do que a formação tradicional acadêmica (graduação, especialização, mestrado, doutorado).
É comum encontrarmos jovens adultos que passam 1/3 do seu tempo de aprendizagem em uma universidade e 2/3 numa formação on-the-job (no trabalho). Provavelmente você seja um dos profissionais que, no Brasil, além de trabalhar 8 horas por dia, ainda dedica 3 ou 4 horas da sua noite em algum curso de formação ou especialização.
Você adquiriu seu diploma universitário e vai encarar o mercado de trabalho. E agora? Esse ‘pedaço de papel‘ é o suficiente para que você saiba e possa assumir uma atividade em sua área? Os 4 ou 5 anos na universidade, te prepararam para exercer as funções que uma empresa necessita? E a formação técnica? Essa é uma discussão atual e que a resposta pode depender muito do momento em que estamos vivendo.
Na empresa Google, por exemplo, a certificação acadêmica não possui tanto peso em uma contratação, como era comum há alguns anos atrás. Em uma pesquisa feita pela Glassdoor, das 15 grandes companhias norte-americanas (incluindo a própria Google, IBM e Apple), em quase todas as vagas de emprego divulgadas, não exigiam formação universitária como um pré-requisito. Por curiosidade, de acordo com a vice-presidente de talentos da IBM, Joanna Daly, cerca de 15% dos funcionários da IBM nos Estados Unidos não têm formação superior.
Isso quer dizer que universidade não é importante? JAMAIS! Longe de mim transmitir esse pensamento, afinal, sou muito a favor de termos mais brasileiros com títulos de mestres e doutores, desde que… não sejam apenas teóricos! O mercado de trabalho exige certa habilidade técnica, experiência no ‘chão de fábrica’, saber resolver problemas, trabalhar em grupos, soft skills, etc. Inclusive, num outro momento quero escrever mais sobre isso: ‘hard skills x soft skills‘!
A experiência e a vivência universitária é muito enriquecedora. Talvez o ‘problema’ esteja em como as instituições preparam o profissional, na questão técnica, para o mercado de trabalho. Você considera que nossas aulas são práticas? Estão de acordo com os problemas vivenciados nas empresas? Os cases estudados são reais e aplicáveis? Se tudo estiver alinhado e a universidade for uma ‘simulação’ da realidade de mercado, não teremos problemas.
A valorização da formação técnica acontece, na maioria das vezes, por este motivo. As empresas sabem que os profissionais ficam 4, 5 anos em uma universidade e que de lá saem sem muito embasamento técnico. Precisam desenvolver as habilidades necessárias, aprender como resolver uma situação do cotidiano e fazer um esforço para transformar a teoria acadêmica em algo aplicável.
Tenho acompanhado muitas universidades e escolas de negócios criando cursos rápidos, técnicos e direcionados ao mercado de trabalho. Numa das instituições em que dou aula no Brasil, um dos cursos mais ‘bombados’ é de curta duração, voltado para a formação em neuromarketing. A procura por ele é muito maior do que noutra formação de 18 meses, que em tese, é muito mais completa.
O que acontece também, é que muitas profissões que estão sendo criadas, não possuem ainda uma formação acadêmica, e sim, apenas cursos técnicos, de curta duração, com o propósito de preparar o profissional para uma determinada atividade. Quer um exemplo? Recentemente li uma reportagem sobre as profissões em alta no Brasil e lembro bem de algumas delas: Consultor de diversidade; Instalador de Energia Solar; e Agroecologista. São profissões que solicitam formações técnicas e que ainda não possuem cursos de longa duração, portanto, uma formação técnica é o suficiente para desempenhar tal atividade.
O mesmo acontece com o técnico em segurança do trabalho, soldador, operador de equipamentos pesados, açougueiro, ilustrador, designer instrucional, etc. São profissionais importantes, que estão sempre ativas e que deixa clara a valorização da formação técnica. São cursos de 2 anos (aproximadamente) e que preparam o profissional, de forma técnica, para ingressar no mercado. Depois disso, dentro da empresa, é que se iniciam as especializações, de acordo com cada atividade.
Se voltarmos novamente para a área de tecnologia, essa realidade é ainda mais ampla. Os desenvolvedores de games, apps, sistemas, sites, etc., normalmente são profissionais com certificações rápidas, específicas e que raramente concluem um curso de 4 ou 5 anos. Esse é um mercado tão ‘aquecido’, que em uma palestra na Campus Party, lembro de ouvir de um profissional da área: “as empresas não podem esperar por 5 anos, um profissional que saia da universidade, sem saber criar uma linha de código, a gente mesmo ensina“.
A IBM, que já citei neste artigo, declarou em 2017 que investiria 1 bilhão de dólares em treinamentos até 2020. Por que ela investiria todo esse valor? Justamente por saber que os profissionais que chegam até ela, possuem lacunas a serem preenchidas e necessitam de formações técnicas e específicas. Não há nada de errado, esse é o jogo!
E você? É um profissional técnico? Consegue resolver problemas? Sabe aplicar tudo aquilo que aprendeu na universidade? Quais são suas competências? O mercado de trabalho quer saber.
Se você concorda sobre a valorização da formação técnica, deixe seu comentário. Se não concorda, comente também. Queremos saber a sua opinião. Até um próximo artigo!
Beck, C.(2019). A valorização da formação técnica. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/a-valorizacao-da-formacao-tecnica