Para iniciar a escrita deste artigo, irei apropriar-me, ainda que momentaneamente, do método de utilização de metáforas e analogias de Sócrates (470 a.C.) para a educação dos adultos. Caso você não saiba do que estou falando, experimente ler este post: Peneiras da sabedoria (Sócrates)
Imagine, portanto, que você está sentado à mesa em um restaurante e ainda não decidiu o que irá comer. Ora, você chama o garçom, e pede que ele sugira algo, certo? Geralmente, ‘o prato do dia’. Ele então traz o seu pedido, que às vistas, não lhe apetece. Como não lhe foi questionado sobre gostos e/ou preferências, você faz a sua refeição e, em um lapso, pensa: ‘Devia ter escolhido, eu mesmo.’ Apesar de remeter à uma simples situação, que de imediato não sugere maiores problemas, isto pode ser levado ao debate da educação de adultos e o famoso termo facilitador da aprendizagem, em inúmeros casos, utilizado sem critério(s).
Saiba que, assim como o garçom citado na analogia acima, há educadores que se comportam dessa forma. Atentos à sua desatenção ou simplesmente reduzindo às suas dúvidas em relação à aprendizagem como supérfluas, poderão utilizar-se disto para entregar-lhe, de bandeja (literalmente), conceitos e ‘soluções’ rápidas, que provavelmente não dirão respeito às suas expectativas, menos ainda serão suficientes para lhe ‘saciar’.
Um estudo a respeito da implementação da Andragogia em um Programa de Educação de Adultos na Etiópia (país localizado no continente Africano), demonstrou que a maioria dos “facilitadores da aprendizagem” entrevistados, sequer possuíam alguma noção sobre o termo e não depositavam credibilidade alguma na capacidade de autogestão, também conhecida como o autoconceito do aluno, um dos pressupostos estabelecidos pelo “Pai da Andragogia” Malcolm Knowles. Ou seja, apesar da relevância do termo, quando aplicado de maneira inadequada, este pode ser um risco à aprendizagem dos adultos, que acabam por receber ‘às prontas’, os conteúdos dissociados de sua(s) realidade(s) e motivações, como o ‘prato do dia’ oferecido pelo garçom.
Bom, o quão injusto seria apresentar o conceito e realizar uma metáfora estruturada se não houvesse a sugestão de uma prática realmente facilitadora? De volta (e concluindo), à história do restaurante, vamos imaginar o quão diferente seria se, o garçom apresentasse o cardápio, explicasse de maneira prática e usual o que está disposto nele e o questionasse a respeito de seus interesses gastronômicos, levando você a, sozinho, e baseado em seu autoconceito e gestão de suas preferências, escolher aquilo que melhor lhe agrada e irá satisfazer? Me atrevo a dizer que essa analogia parece bem mais atraente e facilitadora.
O(a) educador(a) de adultos deve, ao assumir a postura de facilitador da aprendizagem, confiar na capacidade de atuação dos mesmos sobre os problemas propostos em exercícios e práticas e esperar que, o adulto seja capaz de tomar para si aquele conhecimento, baseado naquilo que faz sentido para ele e em como o conteúdo se conecta com suas experiências e cultura, entendendo a responsabilidade que o termo carrega e, diferente dos pseudo-facilitadores, fugir ao máximo às respostas prontas e a consideração de que deve ser entregue ao aluno adulto, o mínimo suficiente, já que, como na visão de um educadores no estudo de caso na África,
“a necessidade dos alunos não vai além do que lidamos na sala de aula […]”.
Espero que você, educador(a) de adultos ou entusiasta em relação ao conhecimento de como deve ser um facilitador da aprendizagem, tenha gostado desta abordagem reflexiva. Não se esqueça de que o conhecimento pode ser construído na troca e portanto, contribuições são bem-vindas.
Para referenciar o artigo, utilizar:
Cosme, E. (2022). O “Facilitador” da Aprendizagem. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/o-facilitador-da-aprendizagem/