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Como trabalhar alunos entediados ?


Como todos sabem, aplico os princípios andragógicos em minhas aulas. Não acredito em um ensino ‘top-down’, autoritário e cheio de regras. Mas, se eu tivesse que optar por uma regra, seria: 


“Todo aluno possui o direito de recusar o tédio!”.

A questão muito complexa é: como trabalhar alunos entediados?


Quando um aluno está entediado, também me sinto entediado. Detesto ser chato, cansativo, repetitivo… E para que a aula não chegue nesse ponto, me desafio a cada minuto. Busco conhecer todos os aprendizes, envolvo eles nos exemplos, relaciono o conteúdo com suas histórias de vida, enfim, faço de tudo para que o aprendizado seja de forma horizontal, o mais colaborativo possível. Acontece que em algum momento, como qualquer ser humano, você pode falhar. Aí então, entra essa ‘regra’ que vai te ajudar a impedir que seus alunos fiquem entediados.


Recentemente apliquei um treinamento de 2 dias, onde logo nos primeiros minutos falei: “Sei que todos aqui possuem expectativas quanto ao conteúdo, assim como sei que todos aqui estão ansiosos por saber como será nosso treinamento. Não me importo que fiquem nos celulares, nem que conversem entre vocês. Mas, se isso acontecer por tédio, aí me importo. Se você preferir o WhatsApp, ao meu conteúdo, ou ouvir seu colega em vez de me ouvir, é porque te deixei entediado, fracassei em minha didática e na forma com que me propus a envolvê-los… e isso não aceito.”


Resolvi testar a ‘regra’, portanto compartilhei com a turma que se em algum momento do treinamento alguém começar a se sentir entediado, gostaria que levantasse a mão ou simplesmente falasse, sem ter que explicar o motivo do tédio. Deixei para eles uma missão, de acompanhar meu desempenho e como uma forma de ‘calibrar minha didática’, dei-lhes a liberdade de interromper a aula a qualquer momento e falar: “Isso está chato”, “Está cansativo”, “Não estou envolvido”, “Por favor, pare!”. Perceba que não me interesso em saber o motivo do tédio. Se é o conteúdo maçante, meu tom de voz, se estou focado em teorias ou se os exemplos não fazem sentido para a turma.


A minha intenção é que eles aprendam e estejam envolvidos nesse processo, portanto permito que os alunos avaliem a aula, ao invés de serem avaliados por ela. Isso nos deixa mais próximos, conectados, em uma verdadeira relação andragógica. Acredito também que é muito mais fácil para o aluno falar que ‘está entediado’, do que admitir que ‘está confuso’ ou ‘sentindo-se estúpido’ por ficar para trás em algum momento da aula. Caso alguém levante a mão, não encaro como uma crítica, e sim, como um reflexo do meu desempenho.


Admito que nesse treinamento, a regra não precisou ser usada. Mas, recebi feedbacks dos alunos, afirmando que se sentiram mais ‘livres’, envolvidos, entusiasmados e parte do processo de ensino-aprendizagem. Isso é sinal de que é possível reter a atenção dos aprendizes e aplicar uma aula envolvente, basta querer.


Sei que é difícil para um professor, que preparou por noites uma aula, que já possui inúmeros diplomas e coleciona ‘horas-aula’, ter que ouvir que está ‘sendo chato’. Mexe com a autoestima, com o ego e de fato, pode ser desmotivador. Talvez por isso, que muitos de nós não dê essa liberdade. Penso que se estamos educando cidadãos adultos, que desejamos que sejam éticos, profissionais melhores e desenvolvam diversas competências, criar um ambiente sincero e colaborativo só nos trará benefícios.


Existem diversas técnicas para envolver os alunos, assim como ciências que nos ensinam a conhecer as expressões, posturas, os ânimos e as motivações de cada um deles. Há recursos, ferramentas e atividades específicas para melhorar uma aula, treinamento, reunião, palestra, etc. Mas, como dizia John Dewey, o renomado filósofo e educador:


“O professor que desperta entusiasmo e envolve seus alunos, conseguiu algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter.” 

Seja envolvente. Diga não ao tédio! Aprenda como trabalhar alunos entediados e apresentar um significado em suas atividades, seja dentro ou fora da sala de aula.

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Beck, C. (2016). Como trabalhar alunos entediados. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/como-trabalhar-alunos-entediados/


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