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O que o cérebro adulto nos ensina sobre ensinar

Quando falamos em educação de adultos, muito se discute sobre metodologias, motivações e experiências anteriores. Mas há uma dimensão essencial que nem sempre ganha o devido destaque: o funcionamento do cérebro adulto. Compreender como o cérebro aprende na fase adulta pode transformar a forma como ensinamos — e como facilitamos o aprendizado.


Abaixo traremos alguns pontos importantes para compreender a importante relação entre a neurociência e a andragogia.


🧠 Cérebro adulto: em constante mudança


Durante muito tempo, acreditou-se que o cérebro humano atingia seu ápice na juventude e, a partir daí, apenas perdia capacidade (o que é um baita erro). No entanto, pesquisas recentes em neurociência desmentem esse mito. Adultos continuam desenvolvendo novas conexões neurais por meio da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar, aprender e reorganizar suas redes.


Isso significa que nunca é tarde para aprender, desde que os estímulos certos estejam presentes — e aqui entra o papel do educador/facilitador. O maior erro de qualquer educador é acreditar que sabe o que o aprendiz adulto quer/precisa aprender. Muitos esquecem que os adultos possuem suas próprias necessidades, crenças, interesses, sonhos, desejos, estilos, ritmos, motivações e por aí vai...


cérebro adulto

 

🔑 Motivação: a chave que destrava o aprendizado adulto


O cérebro adulto é seletivo. Ele prioriza aquilo que faz sentido, tem utilidade prática e está alinhado aos seus interesses e objetivos pessoais ou profissionais. Esse é um dos pilares da Andragogia, formulada por Malcolm Knowles: o adulto precisa saber o porquê está aprendendo.


Dessa forma, vamos para um exemplo: a motivação extrínseca (como uma exigência do trabalho) pode até iniciar o processo, mas é a motivação intrínseca — a vontade genuína de crescer no trabalho — que fortalece as sinapses e consolida o aprendizado. Mas nem todo adulto aprende apenas pelo estímulo profissional.


Nosso cérebro é como um músculo: ele precisa de estímulo para se manter ativo, forte e em desenvolvimento. Seja aprendendo uma nova habilidade no trabalho, resolvendo um problema doméstico ou explorando um hobby, o cérebro adulto está em constante atividade — desde que seja provocado com propósito e desafio.


“O adulto precisa sentir que o ambiente de aprendizagem é seguro, acolhedor e livre de julgamentos.”
— Malcolm Knowles

 

🔄 Memória e repetição com propósito


Vale destacar que o cérebro adulto aprende melhor quando pode conectar novas informações com conhecimentos já existentes. Isso se chama aprendizagem significativa. Diferente do ensino mecânico, que apela apenas à memória de curto prazo, a aprendizagem significativa fortalece a retenção porque ativa áreas do cérebro ligadas à lógica, à emoção e à experiência vivida.


Por isso, repetir um conteúdo pode ser eficaz — desde que tenha propósito e contexto. Simplesmente rever slides ou refazer exercícios não é o bastante: é necessário ressignificar o conteúdo, aplicando-o em problemas reais, simulações ou debates. Fazendo isso, o educador está respeitando as memórias prévias do aprendiz e facilitando o aprendiado.


Gosto muito de uma frase de David Ausubel (1980, p.4) que é: O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Descubra isso e ensine-o a partir daí.”


Ah, não posso esquecer de destacar o pensamento de Judy Willis, educadora e neurologista, e de sua filha, Malana Willis, em Research-Based Strategies to Ignite Student Learning (2006) que nos dizem que repetições sem contexto podem levar ao desinteresse, enquanto abordagens repetitivas com propósito e criatividade estimulam o cérebro e facilitam a retenção do conteúdo. Faz sentido para você? Deixe nos comentários as suas percepções.


cérebro adulto nos ensina
 

🧘‍♀️ Emoções: aliadas ou sabotadoras da aprendizagem


As emoções afetam diretamente a atenção, a motivação e a memorização. Situações estressantes, por exemplo, ativam a amígdala cerebral, que inibe outras áreas relacionadas à aprendizagem. Já um ambiente emocionalmente seguro e estimulante fortalece o hipocampo — região associada à consolidação da memória.


Criar um ambiente empático, acolhedor e colaborativo não é apenas uma questão de estilo: é uma estratégia neuroeducacional. Na Andragogia, a preocupação em criar um elos fortes com os aprendizes é importantíssimo, afinal, o adulto aprende melhor quando sente que é respeitado, ouvido e valorizado em sua trajetória. Diferente da educação tradicional, em que o professor é o centro, a Andragogia propõe uma relação horizontal, de parceria e confiança.


Esse vínculo não é apenas emocional: ele tem impacto direto na motivação, no engajamento e na retenção do conteúdo. Um facilitador que constrói uma relação genuína com seus alunos adultos conquista não só a atenção, mas também o comprometimento com o processo de aprendizagem.


Quando há conexão, o conteúdo ganha significado. Quando há respeito, o erro vira oportunidade. Quando há confiança, o medo dá lugar à curiosidade. E é nesse ambiente — seguro, colaborativo e estimulante — que o cérebro adulto floresce e o verdadeiro aprendizado acontece.


A neuroeducação reforça essa perspectiva: estudos indicam que o ambiente afetivo interfere diretamente no desempenho cognitivo. Quando o aprendiz sente-se seguro e respeitado, o cérebro libera neurotransmissores como dopamina e oxitocina, que favorecem a atenção, a memória e a aprendizagem (Immordino-Yang, 2007).


 

Por fim, o diálogo entre neurociência e andragogia reforça a importância de respeitar a individualidade do adulto, seu ritmo de aprendizagem e sua bagagem de vida. Ensinar adultos é mais do que transferir conhecimento: é despertar a mente, conectar o conteúdo à experiência, ativar emoções positivas e promover a autonomia.


Ao ensinar com base no que o cérebro adulto nos revela, não apenas facilitamos o aprendizado — nós o tornamos memorável.


 

Para referenciar o artigo, utilizar:

– Beck, C. (2025). O que o cérebro adulto nos ensina sobre ensinar. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/o-que-o-cérebro-adulto-nos-ensina-sobre-ensinar

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