Vamos para mais um artigo, desta vez tratando sobre as atividades educacionais aplicadas por professores. Definindo uma atividade de ensino, não é tarefa fácil. Primeiro, penso que seria legal entendermos que uma atividade é uma série de ações e operações, com um motivo e um objetivo. Para facilitar: Por que faço isso? É o motivo. Para que faço isso? É o objetivo. O sentido da atividade, de acordo com Leontiev (psicólogo soviético), depende da relação entre motivo e objetivo.
Recebo muitos e-mails de professores pedindo ‘dicas’ de atividades para realizar com adultos, no sentido de dinâmicas, atividades em grupos, enfim, práticas que possam envolver seus aprendizes. Se você entrou neste artigo buscando dicas de conteúdos prontos para serem aplicados, lamento te decepcionar. A grande questão é:
Existirá um motivo para que os aprendizes realizem tais atividades propostas por você?
Ainda de acordo com o psicólogo soviético, que foi um dos colaboradores de Vigotsky, se você colocar um aluno para ler um livro com o propósito de prepará-lo para uma avaliação, isto será uma ação, não uma atividade. O motivo (avaliação) não coincide com o objetivo da ação (conhecer o conteúdo do livro), mas se você fizer com que o aprendiz se interesse pelo tema do livro (motivo), trata-se de uma atividade.
Onde quero chegar com essa reflexão? Por muitas vezes nos deparamos com atividades que não motivam ou não fazem sentido para a turma de aprendizes. Apagar as luzes e passar um vídeo de 15 minutos sobre uma ação de marketing da Coca-Cola é algo motivador? A não ser que você trabalhe nesta empresa, ou que já tenha ouvido falar sobre o case de sucesso, isso não será uma atividade, e sim uma ação (a de ficar quieto e prestar atenção no vídeo).
Pior ainda, é quando o professor não traz um sentido para esta ação. Ainda no exemplo do vídeo, assim que termina, as luzes são acesas e a aula continuada. De vez em quando, o professor pergunta: E aí, gostaram? (Os alunos em silêncio se perguntam: De que? Qual foi o propósito? Do que deveríamos ter gostado?) Já falamos diversas vezes por aqui que o aprendiz adulto quer relacionar tudo aquilo que é aprendido em sala de aula com alguma prática, ou que faça sincronia com suas motivações e experiências profissionais.
Devemos sim construir práticas educativas no ensino superior, em treinamentos empresariais ou em qualquer desenvolvimento de adultos. É preciso criar atividades experimentais, fazer com que os alunos passem por ações e operações, desde que se tenha um motivo e um objetivo. Por exemplo, aplique atividades em grupo para turmas que preferem aprender uns com os outros. Dependendo do perfil da turma, pode ser que prefiram se desenvolver sozinhos ou somente em pares. Faça testes, sinta o envolvimento e a aceitação da atividade.
Em um treinamento comportamental que apliquei recentemente, realizei 3 atividades.
A primeira delas fiz um teste com os alunos trabalhando em duplas. Senti de fato que houve sincronia, que estavam motivados a completar o desafio que lhes foi passado. Na segunda atividade fiz um teste, onde a atividade era feita em trios e acreditem, o resultado já não foi mais o mesmo. Na maioria dos grupos somente 2 trabalhavam e o terceiro membro da equipe observava, talvez por não ter explicado o sentido de mudar a composição dos grupos formados.
Quando fomos para a atividade final, resolvi que os grupos seriam formados por 4 pessoas e o resultado me surpreendeu, todos estavam envolvidos. Será que as pessoas preferem números pares? Está ligado com numerologia? Penso que não! Mas talvez prefiram trabalhar em pares, pois quando duas pessoas estavam conversando sobre como elaborariam a atividade, as outras duas se organizavam para pesquisar e isso as motivava e as mantinha envolvidas.
É fato que isso não é uma lei, nem regra, nem coincidência. É apenas a forma como aquela turma específica preferia aprender. Existe uma técnica chamada “peer tutoring“, cuja qual, já escrevi sobre e de fato os alunos adultos gostam muito de aprender em pares (ou entre iguais). Isso não significa que você deva aplicar somente essa técnica e esquecer, por exemplo, de leituras individuais ou do método de aprendizagem por observação. Isso irá depender de cada turma, de cada indivíduo e de suas motivações.
Percebo que é uma dificuldade para muitos educadores a responsabilidade de criar atividades complementares, inserir no plano de aula (sem mesmo conhecer os aprendizes) quais serão as práticas desenvolvidas, assim como, fazer com que todos participem. É comum ler/ouvir de meus colegas:
“Ah, essa turma não era participativa”, “Nossa, tenho uma dificuldade em fazê-los interagir”, “Nunca vi alunos tão desinteressados”, etc.
Será que meus colegas professores deram um sentido para a atividade ou simplesmente aplicaram uma ação em sala de aula? Sabe aqueles e-mails que costumo receber com solicitações de dinâmicas/ferramentas/metodologias? Nem sempre os respondo, até porque na internet existem várias dicas (prontas para ctrl+c/ctrl+v), sem que precisamos sair da inércia e seja necessário conhecer nossos aprendizes, para depois então buscar as melhores práticas de desenvolvê-los.
Para finalizar, saliento que qualquer aprendizado requer uma atividade intelectual e só se engaja em uma atividade quem lhe confere um sentido. Portanto, quando um educador está definindo uma atividade de ensino, ao apresentar um motivo e objetivo, fará muito sentido desenvolvê-la. Então, talvez possamos gerar aqui uma outra reflexão: Será que os alunos não aprendem porque o aprendizado não lhes faz sentido?
Para referenciar o artigo, utilizar:
Beck, C. (2017). Definindo uma atividade de ensino. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/definindo-uma-atividade-de-ensino/