Gostaria de compartilhar com vocês uma vez que me perguntaram ‘Andra… o que?!’, quando comentei sobre a Andragogia. Relato aqui o ocorrido:
Já faz tempo que vou em livrarias, bibliotecas e centros culturais na busca de literatura sobre a educação de adultos. A questão é que quando você procura por um livro, normalmente surge um atendente muito gentil e pergunta: “Está procurando por algum livro específico?”
Sim, meu propósito é conhecer cada vez mais sobre os conceitos andragógicos, mas como explicar isso para essa disposta pessoa? Não sei se vocês já leram o artigo onde compartilho minhas tentativas (frustradas) de encontrar um livro sobre Andragogia em Curitiba, Florianópolis, São Paulo e algumas outras cidades. Não encontro!
Mas o que eu gostaria de compartilhar é que sempre que eu respondo “sim, gostaria de livros de Andragogia”, a reação do atendente é a mesma: pensamento confuso, 3 segundos de reflexão e aí vem a pergunta ‘ANDRA… O QUÊ?!’
Atualmente estou acostumado (calejado), já que são mais de 10 anos fazendo isso. Nem meus professores na época de graduação e pós-graduação sabiam, então não é dever do atendente da livraria saber sobre a ciência de educação para adultos. Foi pensando nesses ‘atendentes’, que um dia podem ter acesso a esse artigo, que resolvi resumir o que é a Andragogia.
Muitas pessoas definem a Andragogia como “a arte ou ciência de orientar adultos a aprender”, mas em minha opinião, é uma arte/ciência de aprender sobre os adultos e utilizar os melhores métodos para ensiná-los. Conhecer a Andragogia, é ter acesso a novos caminhos e estratégias de aprendizagem tanto no mundo empresarial quanto no acadêmico, que podem ser aplicados em qualquer sala de aula.
Quer um exemplo bem fácil? Você conhece a Pedagogia, certo? Pois então: Pedagogia significa “ensinar/orientar as crianças”. (Paidos = criança + agogus = orientar). A Andragogia, que vem do Andros = adulto, é o que qualquer educador, instrutor, gestor, etc, precisaria para aprender a educar e desenvolver pessoas adultas.
Vamos para uma reflexão? Você já estudou, certo? É provável (pelo perfil dos meus seguidores) que você tenha uma graduação. Então quero te levar a pensar no seguinte: Sabe todos aqueles professores, que eram formados em Administração, Direito, Ciências Contábeis, Medicina, Educação Física e em vários outros cursos? Acredite, eles não foram preparados para ensinar adultos.
Com base no que alguém afirmaria isso? Simples. O engenheiro fica 5 anos em sala de aula para aprender sobre Engenharia. O médico faz o mesmo, o arquiteto, o administrador, o cientista e por aí vai. Mas e o professor de ensino superior, também não esteve em sala de aula? E a pós-graduação que ele fez? O mestrado? Doutorado? Sim, ele se especializou em uma área, que não foi o ensino de adultos.
O que acontece então, é que temos excelentes profissionais ministrando aulas, com diversas experiências de mercado, assim como ótimos pesquisadores em inúmeras áreas. Mas, infelizmente, não temos um Andragogo, educadores especialistas no ensino de adultos, que conheçam técnicas, ferramentas, métodos e principalmente, que saibam entender o propósito de aprendizagem daqueles que estão em sala de aula.
‘Engraçado’ é que para ensinar crianças, nós temos os Pedagogos. Ótimos profissionais que aprendem sobre alfabetização, letramento, tendências pedagógicas, linguagem oral e escrita, inclusão e diversidade, jogos, recreação, psicomotricidade, processo de desenvolvimento e aprendizagem na infância, neurociência, avaliação, dentre outras disciplinas. Não temos dúvidas de que a Pedagogia é voltada para a criança (se você discorda, então contrate um pedagogo para ministrar um curso de Pós-graduação apenas com os conhecimentos obtidos em sua formação, é simples).
Ah, mas tem a EJA! Em minha opinião, é um programa de alfabetização e nivelamento do ser adulto que ficou fora da escola por um tempo e não pode ser usado como base para desenvolver profissionais, gerar competências comportamentais e técnicas, a fim de preparar o aprendiz para os desafios da vida.
Atendente de livraria’, sabe o que busco nos livros sobre Andragogia (termo idealizado por Alexander Kapp em 1833)? Referências, métodos, ferramentas, conceitos e base para que me torne um educador de adultos cada vez melhor. E acredite, querido atendente, mesmo sem você ter livros para me vender, já consegui resultados incríveis na internet, em livrarias de outros países e até mesmo na reflexão do dia-a-dia como educador.
Talvez não tenhamos muitos autores escrevendo e publicando sobre a Andragogia, assim como não tínhamos milhares de autores de empreendedorismo há 15 anos atrás, por exemplo. Mas, acredito que será uma tendência, ou melhor, uma necessidade para os próximos anos. Afinal, as instituições de ensino já estão sentindo que para melhorar a educação, é preciso melhorar a forma de educar.
Ah, ‘atendente’… para finalizar, caso um outro educador lhe procure para saber sobre livros de Andragogia, mesmo que você não tenha um título em português, saiba que indicar literaturas de Knowles, Lindeman, Paulo Freire, Houle, Mezirow, Ludojoski e vários outros, já é um caminho para uma baita pesquisa. Indico até um tal de Platão, seguidor de Sócrates, e vários outros pensadores como Huss, Rousseau, Voltaire, Kant, etc. que em algum momento nos mostraram como o aprendiz adulto é diferenciado da criança aprendiz.
Quando me perguntaram ‘Andra… o que?!’, foi apenas mais uma das vezes que encontrei pessoas sem noção alguma sobre esta vertente da educação. Espero que você possa nos ajudar a compartilhar seu significado, assim como, a importância da Andragogia para nossas salas de aulas. Nos encontramos em um próximo artigo.
– Beck, C. (2016). Me perguntaram ‘Andra… o que?!’. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/me-perguntaram-andra-o-que/