Uma pergunta muito comum feita pelos pesquisadores me educação é: O que afeta o rendimento acadêmico? Recentemente tive contato com uma pesquisa feita pela Universidade Nacional da Colômbia, onde algumas problemáticas foram identificadas como os principais fatores no baixo rendimento acadêmico. Dentre eles estavam: fatores pessoais; fatores acadêmicos; fatores socioeconômicos; fatores institucionais.
No primeiro grupo de problemáticas, referenciou-se os fatores motivacionais e emocionais dos aprendizes, as expectativas insatisfeitas, as influências externas (família, trabalho, relacionamentos, etc), metas incertas, incompatibilidade de valores pessoais com os institucionais e tantos outros fatores pessoais que afetam o desempenho acadêmico.
Em uma turma de adultos aprendizes, não há como negar que as questões pessoais afetam (e muito) o rendimento individual e coletivo da turma. As experiências de vida, os ‘pré-conceitos’ formados, os vícios trazidos para a sala de aula, as necessidades e até mesmo a carência de conhecimentos específicos podem influenciar no desempenho dos alunos.
Fazendo relação com o segundo grupo, denominado como “problemáticas acadêmicas“, é aí que percebemos um maior desequilíbrio em sala de aula, principalmente nos cursos de pós-graduação, MBA, especializações, mestrados, etc. De acordo com a pesquisa, é onde entra a baixa aptidão intelectual, a deficiente orientação vocacional e uma falha na formação prévia. Este último ponto é perceptível para quem educa adultos, pois fica nítido que cada um chega com uma ‘bagagem’ específica. Vamos falar mais sobre isso?
Se você é ou já foi aluno de uma graduação ou de alguma especialização, sabe que a turma é formada por pessoas com diversas experiências, formações e expectativas. Existem aqueles que vieram de instituições públicas, outros de privadas, assim como, têm aqueles que gostam de estudar e os que evitam sempre que possível. Assim é formada uma turma de adultos, com (in)competências diversas, (des)motivações internas e externas que variam de aluno para aluno, e o que considero mais impactante: as necessidades distintas de aprendizagem.
No Brasil é impossível ‘driblar’ essa problemática, pois sabemos que nossos alunos não são preparados com um padrão de ensino e que a diferença na formação é grotesca, desde o ensino básico, até os últimos anos de formação. Cabe ao educador, saber lidar com isso e utilizar essa desigualdade a seu favor, fazendo com que os aprendizes compartilhem suas experiências, suas dificuldades, as histórias de vida em geral e permitir a aprendizagem colaborativa.
O terceiro fator identificado na pesquisa é a questão socioeconômica, que faz relação com esse segundo grupo que acabamos de abordar. Sabemos que em sala de aula podemos encontrar alunos desempregados, com baixa renda pessoal e familiar, aprendizes que pegam ônibus/trem e demorar 2 horas para chegar na universidade, assim como, recentes mudanças sociodemográficas que impactam o rendimento acadêmico.
Seja sincero consigo, você não acha que um estudante de MBA, pai de família, que trabalhou o dia todo e que se desloca até a instituição pelo período da noite, deva ter seu esforço valorizado? Assim como um jovem de 20 anos que recém entrou na universidade, faz estágio e gasta toda sua bolsa na mensalidade, ou outro que é sustentado pelos pais, mas que se dedica imensamente para os deixar orgulhosos, enfim… A sua turma é formada por seres humanos com problemas pessoais, sociais, acadêmicos e tantos outros. Afinal, quem é que não tem problema?
A grande questão ao meu ver, é que nós (professores – detentores de toda sabedoria), não valorizamos tais problemas. Quando iniciamos nossas belíssimas aulas planejadas, não nos importamos em saber como o aluno chegou na instituição, se ele está empregado ou se almoçou/jantou naquele dia. Também não queremos saber se estão motivados, se gostam de ler ou se falam outros idiomas. Nós, profissionais egocêntricos, nos preocupamos é com a ‘educação’, com nossa fala, em corrigir provas e com os slides e infográficos coloridos e chamativos.
Talvez se falássemos menos de nós em sala de aula, perceberíamos que ali existem seres humanos adultos que estão em busca de novas competências, mas que tais fatores problemáticos pesam no aprendizado. É aí que entra o quarto grupo, denominado como as questões institucionais, que são problemas educacionais (pedagógicos / andragógicos), como falta de apoios didáticos, influências negativas exercidas por professores e pelos centros educativos, assim como, falta de relação da teoria abordada, com a realidade e prática de vida por parte dos aprendizes.
Perceba que as problemáticas estão vinculadas e são complexas, porém existe a necessidade de mudanças comportamentais, principalmente por parte do educador. É óbvio que necessitamos de uma atualização (melhoria) no contexto e no sistema educacional, no currículo e seja lá onde for, mas quando começamos a entrar nesses méritos, fica fácil de culpar um macro ambiente (governo, leis, instituições, comunidade, cultural, etc). Que tal olharmos para dentro, e partir da próxima aula prestarmos mais atenções em quem são nossos alunos?
Ao olhar no fundo dos olhos dos aprendizes, será possível identificar os problemas pessoais e socioeconômicos, as possíveis falhas acadêmicas e se ainda sim houverem problemáticas institucionais, façamos a nossa parte. Adaptamos a didática, envolvemos os aprendizes com os recursos disponíveis e se necessário, sejamos mais empáticos a ponto de identificar aquilo que os motiva, o que atende suas necessidades e expectativas. Não é tão complicado, acredite! Educador, atualize um pouco menos o seu Lattes e invista mais tempo aprendendo sobre pessoas. Valorize o que afeta o rendimento acadêmico e foque nisso.
Espero que tenha gostado deste artigo. Deixe seu comentário e até a próxima!
Para referenciar o artigo, utilizar:
Beck, C. (2018). O que afeta o rendimento acadêmico. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/o-que-afeta-o-rendimento-academico/