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Quero ser um educador (in)competente


Durante um treinamento que ministrava para um grupo de professores fui questionado sobre quais seriam as competências necessárias para um educador de adultos. É uma pergunta que recebo muito e por isso resolvi escrever esse artigo com o títuloQuero ser um educador (in)competente.


Você já ouvir falar do 'CHÁ' ?


▸O conhecimento é o saber. Envolve a educação formal, saber o que, saber o porquê, saber para que e a capacidade de aprender;

▸A habilidade é o saber-fazer. São as experiências, o saber como, as técnicas, o conhecimento tácito e o modelo mental;

▸A atitude é o saber ser. Ou seja, ter determinação, responsabilidade, comprometimento, motivação e iniciativa.


Conhecimento + Habilidade + Atitude = CHA → Competência


Se você é um educador de adultos, convido você a refletir sobre algumas questões:

  1. Sou competente para ensinar sobre o conteúdo proposto em minha aula?

  2. Tenho a competência para desenvolver uma atividade e obter bons resultados com meus alunos?

  3. Quais competências preciso para envolver minha turma durante a aula?

  4. Possuo a competência para avaliar a minha turma e identificar as oportunidades individuais de melhorias?

Para cada pergunta é possível que você identifique uma ou mais competências necessárias. A questão é: O que é ‘ser competente’ e de quais competências estamos falando?


Competência vem do termo em latim competere, que significa uma aptidão para cumprir alguma tarefa ou função. Ser competente como um educador (função) não significa que terei todas as competências necessárias para as inúmeras situações que surgem em sala de aula (tarefas).


Confuso? Vou te ajudar com um exemplo simples. Alguém que consiga assistir um filme em inglês no Netflix, não necessariamente conseguiria aplicar uma palestra nos Estados Unidos somente pelo fato de possuir a competência ‘falar inglês’. Serão necessárias outras competências técnicas e comportamentais, que talvez no conforto de sua casa, sem ser desafiado, não foram necessárias.


Uma pessoa que aprende cálculo aritmético pode precisar de diversas competências nesse assunto, devido ao uso em contextos diversos. Exemplo: Ao pagar suas contas pessoais; interpretar o balanço da empresa; fazer planejamento familiar para uma viagem; devolver um dinheiro emprestado; se envolver em uma negociação; etc.


Saber somar, diminuir, multiplicar ou dividir não significa que farei todos os cálculos que forem necessários, pois dependerá do contexto e das minhas competências para assumir a tarefa. O mesmo acontece com a educação, não é porque ‘sei ensinar’, que conseguirei assumir qualquer desafio em sala de aula. As competências são mutáveis. Hoje você pode não ter determinada competência, mas daqui a algum tempo poderá desenvolvê-la. Assim como, poderá perder alguma competência, caso não trabalhe e exerça a mesma.


Para responder sobre quais competências são necessárias para um educador, penso que devemos antes disso perguntar quais seriam os conhecimentos. Quando aprendemos algo, é conhecimento. Quando aprendemos a usar esse algo, é competência. Sendo assim, o que o educador precisa conhecer para aplicar uma aula? Seria apenas o conteúdo a ser ministrado? E saber envolver os alunos? Conhecer as técnicas de aprendizagens? É importante conhecer os métodos de ensino e suas formas de aplicabilidade? Como conheço os objetivos dos alunos?


Podemos levantar várias questões sobre as necessidades de conhecimentos, habilidades, atitudes e as competências básicas. Inclusive, alguns autores escrevem sobre as competências técnicas e comportamentais que qualquer educador ‘deveria’ ter, a questão é: em qual contexto? Ensinando a quem? Com quais desafios? Utilizando qual didática? Como mensurar os resultados obtidos na aprendizagem?


Não confunda a competência de educar com a de falar em público, explanar sobre um tema ou de trazer exemplos e experiências pessoais sobre um conteúdo. Embora a grande maioria das competências e qualidades gerais estejam presentes nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação, elas raramente são desenvolvidas de forma sistemática em currículos típicos.


O desenvolvimento de competências depende inteiramente de você, pois elas serão seus diferenciais competitivos, isto é, tudo aquilo que te torna único e diferente dos demais educadores. É o que te deixa apto a ser escolhido para desenvolver um trabalho e não outra pessoa. Quando não atinjo um objetivo em sala de aula, quando não consigo envolver meus alunos, quando o resultado do processo de ensino/aprendizagem é ineficaz, talvez tenham me faltado competências.


Se queremos saber sobre as competências mínimas, as básicas, as necessárias para um educador, deveríamos identificar quais são as ‘tarefas’ que podem surgir em sala de aula. Trago alguns exemplos: Envolver um aluno que está distante; trazer exemplos práticos e relacionar com a teoria; incentivar o compartilhamento de experiências; nivelar o desempenho de aprendizagem; atender as expectativas individuais; dentre vários outros.


O grande problema é que nos acomodamos e nos enganamos ao achar que existem poucas competências necessárias para um educador de adultos. No mínimo, para cada situação (para cada turma, para cada grupo com perfis e objetivos diferentes, para cada disciplina, para cada questionamento sobre um tema fora do conteúdo, para cada desafio, para cada forma de aprendizagem, para cada avaliação, para cada didática, para cada exemplo prático, para cada vez que acomodamos, etc.) precisamos de uma ou mais competências.


Pago um café para quem conseguir listar as competências mínimas para todo e qualquer educador!

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Beck, C. (2017). Quero ser um educador (in)competente. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/quero-ser-um-educador-incompetente/

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