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Política, Filosofia e Educação

Você já parou para pensar qual é a relação entre Política, Filosofia e Educação? Gosto de seguir uma linha de raciocínio: mudanças políticas tendem a acontecer por influências filosóficas que resultam em adaptações na educação. Foi o que aconteceu em diversos momentos na história da humanidade, como por exemplo, na Grécia Antiga. Destaco a Era de Ouro de Atenas, considerada por muitos como o ápice da intelectualidade no mundo.


No século V a.C, Atenas foi um lugar onde se reuniram intelectuais, filósofos, artistas, retóricos e diversos outros pensadores que colaboram muito para a formação de adultos. Nesta época surgiram os Sofistas (Protágoras, Górgias, Hípias, Pródico, etc.) e tantas outras escolas filosóficas. Também surgiu Sócrates, pai da filosofia e para mim, o maior educador de todos os tempos. Posteriormente, as teorias educacionais de Platão, Aristóteles e tantos outros. Foi, de fato, o pontapé inicial para a educação de adultos da maneira como a conhecemos nos dias de hoje.


O importante é entender que a política teve uma contribuição muito importante para que esse cenário fosse construído. Péricles, o primeiro líder democrático, criou um cenário em que a população pudesse participar das decisões políticas e, consequentemente, receber educação para adquirir novos saberes. Filósofos com o mesmo pensamento, aproveitaram a brecha e inseriram filosofias, ideias, pensamentos e ajudaram a despertar a curiosidade do cidadão comum por habilidades necessárias para o meio político, como a oratória.


Veja que interessante, em Atenas o cidadão investia em educação, transmitida por filósofos, para que pudessem participar da política da cidade. Da mesma forma, as leis, na maioria das vezes, eram influenciadas por filósofos, que tinham preocupações com o desenvolvimento humano. Sempre foi uma ação ‘tripartite’ que impactou diversas épocas em nossa história. Eu poderia citar aqui o Iluminismo, Marxismo, Niilismo e tantos outros movimentos intelectuais que envolveram política, filosofia e educação.


Em Alexandria, no Egito, se criou um forte cenário educacional na Idade Média, com muitos filósofos neoplatônicos que fizeram história na educação. Outro exemplo, que te convido a pesquisar, é o que aconteceu na Alemanha pós-guerra, uma nação que se reconstruiu e tanto a filosofia como a educação tiveram um forte papel. Inclusive, diversos filósofos e pensadores alemães são parte da história da Andragogia. Educadores como Alexander Kapp, Eugen Rosenstock, Franz Poggeler e tantos outros, ajudaram a reconstruir o país através de novos conceitos e práticas educacionais.


E nos dias de hoje? Os países engajados em política, são avançados em educação? Se listarmos as nações que lideram os rankings em educação, será que encontraremos disputas políticas e filósofos sem expressões? Gandin (2001, p. 101) diz que, “para muitos professores, é um pouco escandaloso falar em política e em educação no mesmo texto”, mas o que percebo nestas nações é que a política é discutida, num tom filosófico, questionador e de maneira crítica.


Portugal, por exemplo, é um país que teve uma recente mudança política e se recuperou de uma forte crise. Para isso, foram necessárias muitas ações educacionais, que resultaram num bom ensino acadêmico, investimento em formação profissional, baixo índice de analfabetismo (antes era muito alto) e uma queda muito significativa no desemprego, que em 2013 era de 17,4% e hoje está abaixo de 7%.


Por mais que a educação tenha forte influência da política, é interessante que saibamos separar opiniões partidárias e extremismos, afinal, em sala de aula ou em qualquer outro local de debate, o interessante é que a educação seja flexível, na horizontal, com respeito ao indivíduo e para com ‘todas as verdades‘.


O que percebo atualmente é que está difícil falar de política, porque não sabemos respeitar a opinião contrária, e justamente o que faziam os filósofos antigos era assumir uma imparcialidade e questionar todas as visões.


Paulo Freire, por exemplo, tem um ‘pouco’ de política, filosofia e educação. A questão é que o atual patrono da educação brasileira ‘sofre’ muito por ter se posicionado fortemente na política, o que leva seus feitos educacionais a serem muito mais valorizados fora do Brasil, do que no próprio país. Mario Sergio Cortella, que foi aprendiz de Freire, é um dos filósofos mais conhecidos da atualidade, porém evita opiniões políticas em seus discursos. Talvez seja uma forma interessante de ‘surfar’ nestas 3 áreas, sem muitos ruídos.


Outra questão é que nossos educadores possuem seus próprios valores, suas ideologias e tendem a caminhar para um lado que lhe seja mais conveniente. Inclusive, nas referências bibliográficas, é possível perceber um professor que indica estes ou aqueles autores, apresenta exemplos destes ou aqueles cenários, porém seria muito interessante, que os alunos pudessem ‘filosofar’ mais sobre todas as ideias. Talvez o que nos falte seja essa terceira vertente: a filosofia.


Não precisamos de novos “gurus” da política, nem da filosofia, e sim, de pensadores que questionem, mostrem novos caminhos, saibam ser flexíveis e sensatos. O que fizeram os bons filósofos da história foi apresentar um novo pensamento e incentivar seus seguidores para que percebam os prós e contras de suas filosofias. Raramente você encontrará mudanças de sucesso que começaram com “faça isso”, “me siga porque sei o que estou fazendo”, “isso está errado, eu sou o certo”, “vamos todos para cá, pois sei o caminho”.


A boa política, assim como filósofos com boas intenções, podem impactar positivamente a educação. Assim como, a política ruim, a inexistência de filósofos ou a falta de novos pensamentos, poderão limitar a educação e fazer com que uma sociedade regrida. Esse não é um fato só de agora, está gravado na história e se repete por muitas vezes.

Como disse anteriormente, nada que é feito em exagero e transmitido de maneira ‘top-down‘, tende a dar certo! “Ser ou não ser, eis a questão” é o que o aprendiz deveria levar em consideração.


Nós, como educadores, apresentamos a realidade, sem influência, e ali se inicia o senso crítico, a investigação e o autoconhecimento por parte dos aprendizes, em identificar aquilo que estão buscando e as lacunas a serem preenchidas pelos novos saberes.

A mesma coisa acontece com a sociedade. Quando ela percebe que é necessário mudar, o ideal é assumir um pensamento crítico para analisar o que vem sendo feito, assim como as ‘propostas que estão na mesa’. É aí que entra novamente a educação, que nos capacita a ter uma cabeça mais formada, as habilidades e saberes necessários, as competências técnicas e comportamentais para fazer parte desta mudança, direta ou indiretamente.


Se você é um educador e já estudou a história da educação, perceberá que na linha do tempo da educação, tanto a filosofia, como a política, foram os pilares que mais influenciaram as mudanças educacionais, seja no conceito, na metodologia ou até mesmo naqueles que poderiam receber a formação. A educação para a guerra; a educação nos mosteiros; as escolas paroquiais, monásticas, palatinas, catedrais; a educação voltada para a indústria (fordismo, taylorismo); a criação das universidades; dentre tantos outros cenários.


Até poderíamos acrescentar uma quarta vertente neste assunto, que é a religião. Durante a Idade Média, por exemplo, a igreja católica teve forte influência na educação de adultos, assim como, na criação das primeiras universidades, que tinham como base o estudo religioso. Façamos o seguinte, se vocês quiserem, esse pode ser um assunto para outro artigo, combinado? Comentem abaixo o que vocês acharam deste artigo e digam se gostariam de ler sobre a relação da Educação e Religião.

 

Beck, C. (2019). Política, Filosofia e Educação. Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/politica-filosofia-e-educacao/

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