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A Teoria do Esforço Consciente (Eduard Lindeman)

Se você é um leitor assíduo do Blog da Andragogia Brasil, sabe que costumamos iniciar nossos textos a partir de uma provocação. Te convido, então, a acompanhar mais uma, para que você consiga formular as primeiras noções a respeito da Teoria do Esforço Consciente.


Se esforçou, se esforçou… e nada?

Muitos são os clichês utilizados para descrever as situações em que você se esforça, dá tudo de si, faz mais do que achou que fosse capaz e simplesmente, não é o suficiente para alcançar determinado objetivo.


“Nadou e morreu na praia.”

Estava nadando na direção correta, ou só por nadar?


“Fez o melhor que podia e ainda assim não conseguiu o que queria.”

Sabia o que queria, realmente?


“É… a sua parte você fez!.”

Será que fez mesmo?


“Não fica assim, você tem consciência do seu esforço.”

B-I-N-G-O! Você tem consciência do seu esforço? Teoria do Esforço Consciente!


Teoria do Esforço Consciente
Teoria do Esforço Consciente

Posso adiantar que, uma das consequências do esforço consciente para as pessoas que se frustram ao não conseguir realizar determinadas ações e/ou adquirir conhecimentos específicos, é a auto depreciação. Quando algo foge do nosso controle, quando erramos ao tentar aprender um conceito, quando as nossas expectativas não são atingidas, em boa parte das vezes, buscamos apenas em nós, a raiz do problema. Ou seja, internamente, você entende e aceita (ou não) que fracassou.


Mas, e se o problema não estiver em você? Se, externamente, aconteceu algo que fez com que o seu processo de aprendizagem não fosse eficaz? Já parou para pensar que “o que faltou?” pode não necessariamente ter faltado em você? Agora, no momento em que realiza esta leitura, você tem consciência do seu esforço para aprender? (Caso sim, meus parabéns!). O que pode te impedir? (Caso não, por que é tão difícil?)

O sentimento de auto depreciação surge principalmente a partir da ausência do conhecimento verdadeiro de o que é esforço e de como é ser esforçado. As reflexões acima são minhas, porém, surgiram a partir do contato com a obra de uma inspiração memorável em educação de adultos e um dos primeiros andragogos conhecidos, o Eduard Cristian Lindeman (1885 - 1954).



A Teoria

Em sua obra, traduzida para o Português pela primeira vez pela Editora Andragogia Brasil, “O Significado da Educação de Adultos Lindeman dedica o capítulo dez aos métodos andragógicos e cita, neste mesmo capítulo, o esforço consciente.


“ [...] A necessidade de pensar o esforço consciente surge quando nossos objetivos ou propósitos são impedidos, quando nossos desejos ficam abaixo de nossas capacidades atuais.” Lindeman

O esforço consciente pode ser dirigido por dois canais, que são conhecidos. O interno e o externo. O primeiro canal vai em direção ao desejo, sua incidência, sua validade, sua realização e sua integridade mas principalmente, em direção à sua personalidade. Ou seja, a primeira via do esforço consciente é completamente de sua responsabilidade.


Primeira Via (Canal) - Interno
Primeira Via (Canal) - Interno

o segundo canal, vai em direção às circunstâncias que, no momento, atuam como barreiras para a realização do desejo. Ou seja, a segunda via do esforço consciente, é aquela que você não controla. Não de imediato. Não de qualquer jeito. Ela é tomada pelos obstáculos e imprecisões externas.


Segunda Via (Canal) - Externa
Segunda Via (Canal) - Externo

Para colocar a Teoria do Esforço Consciente em situações reais, Lindeman utiliza o exemplo de um professor universitário, que percorria a via de número um, ou seja, estava completamente dedicado às dimensões internas de sua prática e, não se preocupava em como as dimensões externas, poderiam afetá-lo. Ele realizava um trabalho considerado apropriado, porém, apenas na primeira via.


Tempo depois, os fatores que impulsionam a via número dois, acabaram por alcançá-lo e ele perdeu o seu emprego. Ao ser comunicado a respeito dos motivos que o levaram à demissão, o professor disse não fazerem jus à sua prática. Porém, estava tão obcecado em fazer a sua parte que sem olhar ao redor, não percebeu que os alunos não aprovavam o seu método e diferente do que acreditava, suas aulas não eram apreciadas.


Para concluir esta pequena história descrita por Lindeman (sugiro a leitura do livro para melhor compreensão), o professor continuou a aplicar o mesmo método e repetiu as ações da primeira via/primeiro canal, sendo também dispensado de outras instituições. Este exemplo não é como a auto depreciação que citei em outro momento do texto. Pelo contrário, é voltado ao excesso de apropriação, ou em outras palavras, este não é um exemplo do reconhecimento do esforço consciente mas sim, de ego. Portanto, te convido a pensar comigo que o equilíbrio pode ser a chave para praticar o esforço consciente.


É importante conhecer os dois canais e passear pelas duas vias.


Implicações da Teoria


Se você deseja atingir um objetivo, para a Teoria do Esforço Consciente, é preciso fazer a si mesmo, três perguntas. Aproveite para refletir a respeito delas durante a leitura.


(1) O quanto do que você está idealizando (interno) é concreto, possível de realizar, independentemente se for afetado por situações externas?


(2) Com relação às situações que estão além de você (externas), você pode encontrar um jeito de lidar com elas?


(3) Quando você se frustra com ‘fracassos’ anteriores, costuma repetir os mesmos comportamentos que te levaram a isso ou busca ter atitudes diferentes?


A chave para entender a Teoria do Esforço Consciente é saber que, atingir um objetivo, conquistar uma meta, superar situações indesejadas e principalmente, adquirir um novo conhecimento, não depende apenas do que você tem dentro, mas da sua capacidade de lidar com o que tem do lado de fora. Quando você for capaz de equilibrar os dois canais, será mais difícil para o 'insucesso' te alcançar.


Algumas maneiras de buscar a aplicação desta teoria são o autoconhecimento (via interna), o reconhecimento dos obstáculos a serem enfrentados (via externa) e a capacidade de observar a situação de um todo e não desconsiderar nenhuma das partes. Ela pode ser fundamental para evitar os clichês que comentei no início deste texto. (A propósito, muito obrigada por concluir esta leitura).


E, caso você realize a leitura do livro, não deixe de compartilhar as suas impressões. Será um prazer discutir melhor o Esforço Consciente. Despeço-me com mais uma frase que sintetiza a teoria e expressa a enorme admiração que cultivo pelo autor.



O pensamento nos leva apenas até certo ponto, então a ação deve seguir ou nos perdemos no deserto do verbalismo.Lindeman

 

Para referenciar o artigo, utilizar:

Cosme, E. (2022). Teoria do Esforço Consciente (Eduard Lindeman). Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/teoria-do-esforco-consciente

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