A Educação dos Adultos, Educação Continuada ou simplesmente, Educação ao Longo da Vida, apesar de fazer bem para todos os indivíduos, muitas vezes é interpretada como uma necessidade secundária, que não tem urgência ou até mesmo que não requer atenção. Em outras palavras, estudar na idade adulta é visto como um 'capricho'.
Senta que lá vem História…
Estava eu em uma formação continuada de professores e a temática era a respeito da educação de adultos e a discussão girava em torno de ferramentas, metodologias e outras maneiras de melhorar a aprendizagem nessa faixa etária. Um dos pontos levantados era justamente a diferença entre as abordagens pedagógicas e andragógicas. Na época, eu ainda não conhecia a Andragogia e na minha cabeça, não havia diferença entre as metodologias, só entre os professores (formação). Ainda assim… fiquei completamente indignada com a fala de uma das professoras presentes na 'roda.'
Não me preocupo com o que vou ensinar aos alunos adultos. Do jeito que são carentes, se eu ensinar a escrever o nome já está de bom tamanho.
Essa frase me causou uma sensação de estranheza e aquilo me fez refletir por um longo tempo. Como disse antes, não conhecia a Andragogia, mas como professora (de crianças e pré-adolescentes), não fazia sentido concordar com algo assim. Quer dizer que,
Quando adultos, o mínimo que nos oferecerem, deve ser aceito?
Penso que seja exatamente o contrário.
Veja, se você já acompanha a Andragogia Brasil e especialmente o nosso Blog, está ciente de que mais fácil que decidir o que as crianças irão aprender, é deixar que os adultos te digam o que eles querem aprender. Infelizmente, a falta de conhecimento e noção da existência desse princípio de autonomia, faz com que os adultos acreditem que aprender algo durante essa faixa etária, é apenas uma maneira de tentar recuperar o tempo perdido e por isso, podem se contentar com aquilo que for oferecido.
E, ao pensar sobre isto, você pode até acreditar que isso é uma ideia ultrapassada, ou que se aplica apenas aos jovens e adultos que não conseguiram estudar na idade certa e precisam de um diploma para ingressar no mercado de trabalho. Mas a verdade é que, esse pensamento está enraizado em todas as maneiras de aprendizado. É só você dizer que é adulto e quer aprender determinado assunto, que algumas pessoas te direcionam olhares que sugerem
“Ah, já passou seu tempo.”
Na Prática
Para refletirmos sobre esse pensamento extremamente vazio da educação de adultos e essa política de compensação, te convido a pensar comigo em algumas situações em que nós, enquanto educadores de adultos ou adultos aprendizes, nos fazemos acreditar nisto e acabamos por dar continuidade à essa visão limitante da aprendizagem ao longo da vida.
Vou começar com o clássico bloqueio tecnológico. Os avanços nesse sentido são inúmeros e é muito comum que as pessoas acreditem que aprender a já passou da época, ou que não têm mais idade para aprender. Esse exemplo serve perfeitamente para que a gente entenda o quão prejudicial é acreditar que devemos nos contentar com o mínimo.
Ah, não é coisa de gente da minha idade mesmo…
Outro exemplo é aprender um novo idioma. Quando adultos, parece que não se precisa mais de uma competência como essa, ou que é tarde para entrar em um cursinho, estudar sozinho, aprender, traduzir e todas essas coisas. “
Depois de 'grande', aprender a falar outra língua? Para quê?
Por fim, sem dar um exemplo genérico e voltando-se para você enquanto adulto, já que esses podem não estar de acordo com a sua realidade, pense em algo que você deixou de fazer porque já tinha feito o mínimo. Em algo que deixou de aprender porque já aprendeu o mínimo e perceba o quanto esta crença te limitou e o quanto de aprendizado(s) que você teria, além do mínimo.
Sinceramente, o mínimo é só o começo. Não devemos nos contentar com ele, principalmente se quisermos aproveitar melhor a nossa vida. Esta foi uma reflexão mais 'intimista', a partir da experiência que vivi na formação que mencionei no início do texto. Um outro artigo do nosso Blog, Não se ensina truque novo a cachorro velho, traz reflexões que contribuem para estas que você acabou de ler.
Já viveu uma experiência parecida? Por favor, não deixe de compartilhar, caso sinta-se à vontade. Até uma próxima reflexão!
Para referenciar o artigo, utilizar:
Cosme, E. (2022). Ao aluno adulto, o mínimo?! Andragogia Brasil. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/ao-aluno-adulto-o-minimo